Os pulmões são órgãos do sistema respiratório, subdivididos em lobos por fissuras interlobares que individualizam e facilitam sua mobilidade durante a respiração (NAV, 2017; Mendoza et al., 2019). Recebem sangue venoso da artéria pulmonar, proveniente do ventrículo direito, e sangue arterial das artérias brônquicas, provenientes da aorta, artérias intercostais e subclávicas (Konig e Liebch, 2004). A drenagem linfática ocorre através do centro linfático bronquial, formado pelos linfonodos traqueobrônquicos direito, esquerdo, médio e linfonodos pulmonares (Silva, 2022). Os pulmões ocupam grande parte da cavidade torácica, limitados dorsalmente pelas vértebras torácicas, ventralmente pelo esterno, lateralmente pelas costelas e caudalmente pelo diafragma (Hare, 1986). São recobertos pela pleura, um revestimento seroso dividido em dois folhetos, importantes para manutenção da pressão negativa torácica, fundamental para a respiração. (Zocchi, 2020).
A lobectomia pulmonar consiste na remoção cirúrgica do lobo pulmonar, podendo ser parcial, em que uma parte do lobo é ressecada ou total, quando todo o lobo é removido. (MacPhail, 2014; Monnet, 2017, 2018). As indicações para em cães incluem injúria traumática, neoplasia, torção de lobo ou abscesso restritos a um lobo pulmonar, bronquiectasia e corpos estranhos (Orton, 1994, Nelson, 1994). Previamente a cirurgia, animais com trauma torácico ou insuficiência respiratória aguda precisam ser estabilizados. A técnica pode ser realizada através de uma abordagem por toracotomia intercostal, esternotomia mediana ou toracoscopia, conforme localização e extensão da lesão (Silva, 2022).
Na lobectomia total por toracotomia intercostal, o lobo afetado é acessado pelo quarto, quinto ou sexto espaço intercostal direito ou esquerdo. O lobo deve ser isolado com compressas úmidas, artéria e veia pulmonar devem ser identificados no hilo lobar, dissecadas e ligadas duplamente, de forma individual, com fio monofilamentar absorvível ou não absorvível 3-0. Na artéria, pode-se realizar uma transfixação entre as ligaduras a fim de impedir que a primeira sutura seja deslocada. Em seguida, o brônquio lobar deve ser identificado e dissecado. Duas pinças Satinsky são utilizadas no brônquio, proximal e distal ao local de transecção, proximal a primeira pinça, o brônquio deve ser suturado em padrão de colchoeiro horizontal com fio monofilamentar não absorvível 3-0 ou absorvível de longa duração. Outras opções incluem ligadura de transfixação em brônquios de cães menores, nó de Miller (casos emergenciais) e grampeador (Fossum, 2014, 2021). Uma segunda sutura em padrão simples contínuo é realizada no brônquio remanescente. Antes da toracorrafia, é imprescindível o teste de aerostasia, que consiste em preencher a cavidade torácica com solução salina estéril aquecida, inflar os pulmões e verificar se há vazamentos. Com aerostasia adequada, remove-se o líquido, verifica-se se não há sangramento e torções dos lobos remanescentes. Um dreno torácico deve ser inserido como forma de restabelecer a pressão negativa. Em seguida, realiza-se a toracorrafia circuncostal e bandagem torácica não compressiva deve ser realizada no pós-operatório imediato (Fossum, 2021).
Cães podem tolerar perda aguda de até 50% do volume pulmonar, mas podem desenvolver acidose respiratória e intolerância ao exercício transitórias. Apesar de reduções iniciais no volume residual, capacidade vital e pulmonar total, o volume residual aumenta progressivamente após três meses (Fossum, 2014).